Default Answers


Tudo o que oiço são default answers. As pessoas perderam a capacidade de fundamentar o que dizem com algo que realmente acreditam. Tudo o que sai das suas bocas são frases feitas que, com tanto uso, já perderam o seu sentido, o seu cerne.
O que hoje em dia é dito com tanta vulgaridade foi outrora um símbolo de sabedoria:
"Não me julgues sem antes teres estado nos meus sapatos."
"És o meu orgulho."
"Há quem não saiba quando calar."
"A palavra é prata, o silêncio é ouro."
"O homem comum fala, o sábio escuta, o tolo discute."
Vai por mim que sou ourives: se ouvires alguém a dizer alguma coisa minimamente semelhante, pede-lhe para explicar porque é que está a dizer aquilo, como é que se enquadra no seu dia, o que é que aquilo significa para ele. Depois espanta-te por não obteres resposta a nada.


O grande problema de hoje em dia é as pessoas tentarem ao extremo mostrarem-se superiores, mais sábias e vividas que os outros. No meio de tanta tentativa de mostrar, esquecem-se de fazer. E sem viver, sem reflectir, não receberão a sapiência que vem associada à experiência; não crescem em conceito, ou seja, não evoluem o raciocínio, não abrem a mente nem despertam a descoberta. Simplesmente limitam-se a seguir os outros. A individualidade (aquela coisa que mostra quem és, o quão único és) ficou perdida algures entre o medo de se afirmar e o receio de errar. Para evitar qualquer cabeçada na parede, desistiram de explorar o mundo que está entre os ossos frontal, parietal, occipital e temporal - o seu próprio mundo.
Nele encontram-se os nossos valores. Não os incutidos diariamente, mas a nossa avaliação deles. Lá dentro encontram-se histórias fantásticas e conclusões fascinantes. Estão guardadas as análises mais detalhadas do dia-a-dia, as deduções que de uma situação retiramos e guardamos tão nossas como o sangue que em nós corre.
Nada substituí a tua opinião, a tua vera opinião. A ideia da Joaquina não é a tua, os gostos do José não são os teus, a maneira de ver as coisas da Francisca não é a tua e, principalmente, o raciocínio dos outros não é o teu! E o teu é tão bonito. É tão interessante, tão fascinante, tão complexo e cheio de entrelinhas, tão cheio de pedacinhos de ti!

Não te deixes desaparecer, de fazer de ti um cliché completo. Diz, faz. Mas di-lo e fá-lo porque queres e sentes. Não porque vês ser dito e feito.

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